domingo, 31 de janeiro de 2016

33- Adolescência - Parte 3


 No final das aulas falei para o meu namorado que não daria para ir com ele para casa, porque tinha algo pra fazer. E ele lindamente sequer me fez perguntas.
Era um plano de gente louca, mas nunca tinha acreditado ser lá o ser mais normal do mundo. Segui o Gustavo até a sua casa. Longe o suficiente para não deixar a situação ainda mais estranha.

Não era longe de onde eu morava. Fui para casa. Engoli a comida e voltei à casa dele. Bati na porta. Ele mesmo atendeu. A surpresa estampada em seu rosto. Não deveria, mas comecei a rir.
- Desculpa. - Pedi. - Você não quis fazer o trabalho na minha casa. Então vamos fazer aqui.
Eu não nunca fui do tipo abusada, mas não fazia ideia de como poderia agir de forma diferente ali. Pedi licença e entrei na casa.

Gustavo fechou a porta depois que eu passei. Ficou um tempo parado na porta.
- Então, onde podemos começar? - Meu lustra-móveis estava em dia.
Depois de um tempo desconfortável esperando resposta ele apontou uma direção e eu o segui. Era seu quarto. Mesmo apreensiva, entrei.

O quarto era pequeno. Na verdade, a casa era pequena. E eu que achava que não fosse possível uma casa mais apertada que a minha.
Ele apontou para o computador na mesinha.
- Acho que a parte do texto não vai ser um problema. Mas as respostas eu não faço ideia de como você conseguiu algumas... - Tentei puxar conversa.

Ele ligou o computador. Abriu alguns sites.
- Achei tudo aqui. - Falou.
Foi bem de leve, mas senti uma acelerada no meu coração. Fui pega de surpresa. Finalmente, ele tinha dito alguma coisa. Fiquei me perguntando quando conseguiria ouví-lo novamente. Sorri.

32- Adolescência - Parte 2

 - Não vou aceitar isso. O trabalho é em dois. - Reclamei assim que tive a oportunidade. Ele que fosse achando que eu aceitaria a afronta de ter esperado por ele uma tarde inteira pra depois ele aparecer com o trabalho em dupla feito.
Era intervalo na escola e eu tinha encontrado o Gustavo num cantinho bem escondido. Ele me olhou confuso e no mesmo segundo desviou os olhos. Mudo. Qual era o problema dele?
- Vai mesmo me ignorar?


Reparei que ele olhava impaciente para a saída daquele canto.
- Juro que vou te matar antes que você dê um passo pra longe daqui. - Ameacei.
Ele não saiu. Não falou. Pegou o livro e continuou lendo.
Esperei, encarando incrédula até que o sinal anunciando o fim do intervalo tocou.


Não dava. Já estava acreditando que talvez ele fosse mesmo mudo e eu estivesse sendo a babaca. Fui até o nosso professor.
- Não vou fazer o trabalho com a dupla que o senhor escolheu pra mim.
O professor me olhou assustado.
- O que aconteceu, Julieta?
Eu era mesmo apaixonada por aquele homem, era o único que podia falar o meu nome e me deixar feito uma boba feliz.


Concentra.
- Ele não fala comigo. Nada mesmo. Nenhuma palavra. Combinei com ele pra fazer o trabalho comigo e ele nem apareceu. Depois me entregou o trabalho todo pronto. Não está certo isso. Me deixa fazer sozinha, por favor? Ou então arruma outra dupla pra mim...
- A sua dupla é o Gustavo, certo?
Fiz que sim com a cabeça.


- Imaginei que você fosse ter dificuldades. Peço sinceras desculpas por não ter conversado com você antes. - Colocou uma mão no meu ombro. Perdoado. Perdoadíssimo. - Gustavo tem dificuldade em interagir com outras pessoas. É um desafio para ele estar conosco na sala de aula todo dia. O nome é fobia social. Eu tinha esperanças em conseguir algum resultado melhor colocando vocês dois em dupla. Pode fazer o seu trabalho sozinha. Vou pegar mais leve na sua correção.
- Não. Eu... Eu não sabia. Pensei que ele só...  Bem... Quero tentar fazer esse trabalho com ele. Temos um bom prazo.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

31 - Sessão entretenimento

Tentei tirá-lo de lá, queria que ele respirasse um ar puro, mas foi em vão, o máximo que eu consegui foi levá-lo à sala dos médicos, graças ao bom Deus eles valorizam nosso trabalho e aqui tem tudo do melhor.
- Ok, se você vai ficar aqui eu também vou, senta ai e vamos escolher um filme que estiver passando na TV, mas eu escolho e sem discussão.
- E desde quando recebo ordens suas? - percebi um sorriso de leve novamente.

- Desde quando você tem uma prima linda e loira que se preocupa com você, agora cala a boca e vamos procurar um filme.



- Não,não.. Esse também não... - Enquanto escolhia o filme percebi que ele mexia no celular.  - O que houve? Algum problema?
- Tem umas mensagens aqui, mas não quero ver isso agora, a recepcionista disse que a Juh veio aqui hoje querendo falar comigo.
- E porquê eu não a vi por aqui?
- Porque eu disse que eu não queria ser incomodado e que se perguntassem falassem que eu não estava.



- Você o quê? - Quando percebi estava quase gritando - Se não quer falar com sua namorada, ok, mas não seria bom falar com sua irmã? Ela deve estar preocupada.
- Eu só não quero falar sobre isso agora, pode ser? Com aquela cara de cachorrinho pidão não tinha como continuar o assunto.
- Mas, só pra você lembrar, não tem como você fugir de mim, não pode impedir que eu te ache no hospital, então vou te chatear até você sair daqui.



Estava na metade do filme que eu acho que ele não viu nem o nome, já estava incomodada com aquilo, porque querendo ou não eu o ficava observando, a mente dele deveria estar a milhas de distância, aquilo tinha que parar, pelo menos enquanto eu estivesse por perto não o deixaria ficar daquele jeito.
- Clark? - chamei três vezes e não houve resposta, definitivamente ele estava longe. Decidi partir ao ataque - literalmente. - DIVA AO ATAQUE!!! ele levou um susto com o meu grito e sem esperar eu fui pra cima fazendo cócegas nele.
- Para com isso sua maluca! - Ele falava entre gargalhadas - ninguém em seu juízo perfeito me faz cócegas desde que eu tinha uns 12 anos!!!



Esquecemos o filme e conversamos mais um pouco, já era tarde e eu estava muito cansada.
- Vejo você amanhã e não tente ficar escondido - o lembrei novamente -, porque acredite, eu te acharei.
- Sabe que aqui trabalhamos com ótimos psiquiatras, vou acabar te denunciando por comportamento anormal e insanidade.
- Sabe que é genético, né primo? - Disse piscando os cílios. Não gostaria de ir pra casa? A Juh ficaria feliz em te ver.
- Outro dia eu apareço, eu prometo. Fala pra ela não se preocupar tanto.
- Boa noite Clark e cuide-se, qualquer coisa me liga. - Dei um beijo em seu rosto e fui pra casa, mesmo que a vontade de arrastá-lo comigo fosse imensa.


quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

30- De olhos fechados

E sem me dar mais explicações, vi Gabriela entrando em um carro e indo embora. Fiquei parada ali por uns minutos. Queria ter implorado para que ficasse, para que tentasse conversar com meu irmão, mas não consegui. E a conhecia o suficiente para saber que nada do que eu dissesse a faria mudar de ideia.


Tentei me acalmar. Meu irmão iria atrás dela. Certeza. Certo?
Mandei uma mensagem para o celular do Clark.
Se quer ficar louco, tudo bem. Se quer fugir dos seus problemas, tudo bem também. Só não faça isso sozinho. Estou aqui. 
Tinha planejado mandar uma mensagem mais agressiva, mas era só lembrar de sua expressão triste que já amolecia o meu coração.


Por hora, eu não podia fazer muito mais.
Pensei em voltar para casa e já estava a poucos metros, quando avistei no final da rua o estúdio de fotografia do Gustavo. Era muito tarde, mas talvez...
Em dois minutos lá estava eu batendo na porta da sua casa, atrás do estúdio.


- Juh? - Ele perguntou surpreso quando abriu a porta.
E fiz algo estúpido, bom, mas extremamente estúpido. Um beijo. Tímido. Com paixão. Devagar. Com pressa. Com mãos. Retribuído.
Descemos as escadas sem desgrudar nossos lábios.


Não tive coragem de olhar em seus olhos em nenhum momento.
Eu não queria ter que pensar no depois.
Eu queria aquele momento. Queria nossos corpos nus. Queria ritmo e proximidade. E tive.

29- Coração partido

 Na recepção do hospital, em que meu irmão trabalha, fui informada que ele não estava. Foi quando a voz tagarela na minha cabeça começou a me encher de ideias e eu tive que concordar com ela... Estava muito certa que o meu irmão estava no bendito hospital, só não iria me receber.


-Tem certeza que ele não está? Se ele estiver e não quiser falar comigo é menos preocupante que ele não estando em lugar nenhum. - Tentei convencer a recepcionista a me contar alguma coisa.
Ela suspirou pesarosa, inclinou a cabeça na minha direção como se fosse me contar um segredo.
- Ele está sempre no hospital. Mas deixou claro que não queria falar com ninguém, caso o procurassem. Só estou cumprindo ordens.
Sorri agradecendo a informação.


Decidi ir ver a minha cunhada. Não planejava dedurar meu irmão. E lá estava uma daquelas cenas que vemos em milhares de filmes dramáticos. Minha cunhada com duas malas na frente do apartamento.
- Gabi? - Perguntei com a voz um pouco mais apavorada do que desejei.
Ela me olhou um tanto nervosa.
- Estou indo embora, Juh.


Meu coração deu uma pausa. As palavras não queriam sair.
"Como assim?", "Por quê?", "Não!".
Talvez ela tenha lido meus pensamentos.
- Não dá mais, Juh... - Seu tom menos ríspido dessa vez.


- Eu... - pausou - Só não dá mais.
Percebi que eu estava chorando. E a abracei com todas as minhas forças.
- Não posso viver sem você, Gabi... Tenho certeza que meu irmão também não. - As palavras saíram em meio a soluços.
Ela me abraçava me consolando.
- Não dá mais. - Gabriela disse mais um vez.

28 - Diva, a boa samaritana

Na manhã seguinte acordei ainda mais cedo, fui "assaltar a geladeira" - Pensei em levar um café da manhã pro Clark, aquela comida da lanchonete é pior que castigo e só deve ser consumida em caso de total desespero - Não tinha praticamente nada lá além de água, um prato já feito com uma torrada, bacon murchos e um ovo mexido, eu que não mexeria naquilo. - Alguém (que não serei eu) tem que limpar essa geladeira. Tudo bem, eu posso passar em uma confeitaria antes do trabalho.



 Chegando lá coloquei tudo sobre a mesa (acho que exagerei um pouquinho) e fui fazer o café, não sei quanto ele, mas eu estava morrendo fome. Não queria que ele soubesse que eu sabia. Talvez seria melhor comer rápido e deixar as coisas lá,  mas ele foi mais rápido que meu pensamento. 
- O que está fazendo aqui tão cedo? - ele perguntou surpreso.
- Senta ai, vamos tomar café - acenei pra mesa já posta.



Achei que melhor do que lhe fazer a mesma pergunta seria que eu contasse um pouco da verdade por trás de tudo, afinal ele já sabia mesmo.
- Não ando conseguindo dormir muito bem, depois daquele dia minha cabeça anda a mil, então acordo cedo e venho pra cá onde sou realmente útil - mal conseguia olhar nos seus olhos, ainda estava envergonhada, porém acabei me sentindo melhor de ter desabafado.
- Sei exatamente como é isso - Ele disse com a voz distante enquanto puxava a cadeira para sentar.



Terminamos o café em silencio, um silêncio bem vindo cada um perdido em seus próprios pensamentos.
- Está na minha hora - quando me levantei ele estava quase ao meu lado.
- Diva - ele pausou um pouco - Obrigado. - Ele segurou brevemente minhas mãos e por mais simples e fraternal que foi esse gesto eu não esperava ( não estou reclamando) e foi estranho um calor percorrendo meu corpo. 
- Disponha - sorri e fui  fazer meu trabalho



Terminou meu turno e fui ver o Clark e pra variar estava praticamente com a cara no trabalho, dessa vez não hesitei. 
- Clark, acabou o nosso turno, vamos.- Ele parou para me olhar. 
- Posso saber pra onde? - um esboço de sorriso apareceu em seu rosto.
- Malhar, cinema, meditar, socar alguém, não importa. Bora primo, vamos nos divertir 
- Diva eu agradeço, mas eu prefiro ficar por aqui mesmo. - tinha que pensar rápido.


27- Dia das meninas

 Voltei para onde as meninas estavam. Diva engolia e era engolida por um moreno. Valentine ainda dançava. Fui até a ruiva.
- Se divertindo? - Perguntei.
- Acho que estava precisando. - Respondeu sorrindo.
- Também.


Ficamos dançando por mais um tempo. Quando a oxigenada voltou estava mais pra lá do que pra cá. Claramente, hora de ir para casa.
Dormi o que pareceu praticamente nada, mesmo que o relógio discordasse drasticamente disso. Teria dormido muito mais se a Diva não estivesse tão determinada a me impedir.
- Chega de dormir. Joga uma água no rosto, troca essa roupa e desce. Estamos te esperando. - Ordenou e saiu.


Levantei sem vontade e em menos de dez minutos já estava com as meninas em um carro à caminho do Spa que a Diva frequentava. Passamos o dia com mimos de especialistas.
Nunca pensei que diria isso, mas passar o dia com aquelas duas foi realmente bom.


Aproveitamos e demos uma mudada de leve no visual. Assim que chegamos em casa, liguei meu celular e vi milhares de mensagens da Gabriela. Todas querendo saber se eu estava com o Clark ou se eu sabia onde ele estava. Suspirei pesarosa. Teria que dar um jeito de encontrá-lo. Não respondi a minha cunhada. Ela parecia irritada comigo.


Liguei diversas vezes para o Clark e todas sem resposta. Já estava tarde e eu teria trabalhar no dia seguinte, mas era o meu irmão... Peguei um táxi e desejei com todas as forças estar indo para o lugar certo. Se ele não estava em casa e não estivesse também no hospital, eu não faria ideia de onde o encontraria.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

26- Noite das meninas

 Não levei cinco minutos esperando; agradeci mentalmente por isso. Reparei que a Diva tinha trocado a bermuda por uma mini saia. E sem que eu precisasse pedir já foi falando para o taxista para onde estávamos indo. Quando chegamos na Discoteca Pan Europa fiquei impressionada com o tamanho. A bem da verdade, eu nunca tinha ido a uma boate antes. Quando morava em Oasis Springs tinha meus pais que nunca deixariam e quando me mudei para Willow Creek, bem... tinha o meu irmão.


Antes mesmo de ver como era o interior fui tomada por uma satisfação gigante e me prometi que iria conhecer todos os lugares possíveis. Diva parecia conhecer bem a boate, porque nos levou para o andar de baixo e disse que ali era muito melhor. Passamos por uma porta gigante que separava a pista de dança do bar. Pediu uns drinques e assim que chegaram nos arrastou de volta para onde toda a festa acontecia.


Foi mais divertido do que tinha imaginado que seria. Depois de um longo tempo fingindo que sabia dançar, avisei para as outras duas dançarinas que iria pegar mais alguma coisa para beber. Enquanto aguardava qualquer um daqueles drinques do cardápio observei o sujeito sentado ao meu lado. Foi difícil conseguir ver alguma coisa do seu rosto, porque usava um chapéu horroroso que eu jurei que se encarasse mais um pouco iria arrancar da cabeça dele.


- Oi, tudo bem? - Tentei puxar assunto
O barbudo resmungou alguma coisa inaudível.
- Ahm? Desculpa, não consegui ouvir.
Bufou. - Eu disse que não está tudo bem.
Apesar do claro aviso de que não queria conversar, as palavras simplesmente voaram pelo minha boca.
- Por quê? - E eu fiz essa pergunta idiota.


Ele finalmente se deu ao trabalho de me olhar. E continuou me olhando sem falar nada por um tempo desconfortável.
- Desculpa. Perguntei sem querer.
Encarou-me em silêncio por mais uns segundos e saiu. Exatamente assim. Eu quis me matar de vergonha, talvez já estivesse morrendo. Bebi o meu copo num gole e vi que o "sem nome" tinha deixado meio copo do que bebia. Sim. Bebi também.

25- Encontro do Passado


Olhamos muitas casas, mas depois de muito procurar, só encontramos do jeito que minha tia queria e dentro do orçamento planejado uma no limite da cidade. Ajudei minha tia a arrumar as coisas no lugar. Quase na hora do almoço saí para procurar um mercado para comprar algumas coisas para fazer algo para comermos.


 Achei um no próximo quarteirão. Estava pegando algumas coisas em uma prateleira quando deixei cair um monte de latas no chão.
- Droga.
- Algum problema?
- Não. Só essas latas chatas. – Me virei e vi um rapaz.
- Val? - Fazia muitos anos que não me chamavam assim. Era a forma que meus pais e conhecidos me chamavam. Eu o fiquei encarando por uns segundos quando um rosto veio em minha mente.


- Natan?
- Isso. - Ele sorri.
- Nossa. Faz tanto tempo.
Ele dá de ombros.
- Você está morando aqui por perto?
- Não, minha tia se mudou para cá.
- Ah...


 - Foi bom revê-lo - Forcei um sorriso. - Agora preciso ir.
Saí andando rápido, meus pensamentos estavam a mil. Fui para o próximo corredor e encostei na parede para me recompor. O que ele, logo ele fazia ali. Paguei o que tinha comprado. Estava saindo do mercado quando ouço sua voz.
- Espere, vou te ajudar a levar.
- Não precisa. - Tentei sorrir, mas acabou saindo uma careta.
- Pare de ser chata. - “Chata, boba e feiosa”. Aquela voz do passado ecoou em minha mente. Me desconsertei e deixei que ele me acompanhasse. Andamos em silêncio. No portão da casa da minha tia, ele colocou minhas compras no chão.


- Então, é aqui?
- Sim, obrigada pela ajuda.
- Deve estar tudo uma bagunça, precisa de algo?
- Estamos dando conta.
- Bem, moro bem ali. Ele aponta a casa em frente. - Se quiser alguma coisa, só me procurar.
- Está bem. – Já estava entrando quando ouço uma voz feminina.


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

24 - Cada um com seus problemas

Acordar antes do horário parece ser agora uma porcaria de rotina, só pode ser. Faltando ainda duas horas para o despertador tocar para meu turno das 11 da madrugada eu já estava de pé. Não tendo nada melhor pra fazer, fui pro trabalho, talvez ajudar algum estagiário ou o pobre plantonista, não importa. Ocupar minha mente e foco, é disso que preciso. Quando sai o sol já começava a brilhar forte, tão lindo que quase me fazia esquecer dos problemas.


Cumprimentei a  recepcionista e fui pra sala dos médicos, ao abrir a porta dei de cara com o Clark, parecia cansado.
- Bom dia Dr. - Não o conseguia encarar depois do que aconteceu com Fausto. - Não sabia que estaria de plantão.
- Bom dia Diva - ele disse em um tom cansado - Na verdade eu não deveria estar, mas eu quis ficar - Com licença, tenho que ver um paciente. - levou a mão à testa que me pareceu um sinal de exaustão.


Enquanto fazia meu serviço o vi ziguezagueando pelo hospital durante todo o dia, mal parando pra comer alguma coisa, apenas se entupindo de café. No final do meu expediente ele ainda não parecia ter a intenção de voltar pra casa. Não sabia se eu deveria falar algo, mas estava preocupada.
- Clark,não vai pra casa? Já acabou nosso turno.
- Já estou indo - ele disse sem olhar pra trás, mas não moveu do lugar.
- Até amanhã Clark - sai fechando a porta atrás de mim, algo me dizendo que ele não tinha a intenção de sair dali tão cedo.


Sai de lá e fui pra academia, ainda me sentia culpada pelo bolo de chocolate. Fiz um circuito completo, suei pra caramba, ora xingando mentalmente a Valentina por ter feito aquele bolo, mas me senti realmente melhor quando resolvi socar aquele saco de boxe. Imaginava a cara do Fausto toda vez que o golpeava, era inevitável. Tinha que descarregar também aquela tensão. Tomei uma ducha e estava pronta pra ir pra casa, mas primeiro...


Coloquei minha roupa de trabalho, voltei ao hospital e fui investigar, não quis perguntar sobre ele na recepção, algo me dizia que o Clark continuava por ali e não iria embora. - ele não estava atendendo estava quase indo embora quando me lembrei da área de descanso do pessoal de plantão. - Abri a porta e ali estava ele, dormindo no hospital. Iria fingir que não o tinha visto ali, fechei a porta e fui embora. Fiquei com dó,no entanto aquilo não era da minha conta, mas eu me preocupava, afinal ele é meu primo e talvez tivesse que contar aquilo pra sua irmã, ela talvez pudesse fazer algo.