segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

53- Ex-cunhadinha querida e atual amiga querida

Estava morta de cansaço depois da viagem de carro de volta para casa.
Sentada na cama tomei uma decisão e mandei uma mensagem dizendo estar morrendo de saudades para a Gabriela. Se ela e meu irmão não queriam mais nada um com o outro o problema era deles. Eu continuava amando a Gabriela.


Cochilei. Acordei com o meu celular apitando pela mensagem recebida. Era a Gabriela me contando que estaria de folga no dia seguinte e me convidando para almoçar com ela. Passou-me seu novo endereço; ficava mais longe do que imaginei.
Desejei que a noite passasse o mais rápido possível enquanto esvaziava minha mala.


Meu pedido foi prontamente atendido pelo Senhor Destino graças ao quanto estava esgotada. Dormi como uma pedra.
Não demorei e já estava na casa da Gabriela. Nem preciso dizer que faltei esmagá-la com meus abraços, certo?
O lugar era pequeno e repleto por milhares de caixas. Parecia que tinha chegado de mudança naquele mesmo dia.


- Ainda não teve tempo para arrumar suas coisas? - Perguntei durante o almoço.
Suspirou. - Nem vontade. Quando consigo alguma folga estou tão cansada que prefiro tirar o dia descansando. - Olhou ao redor. - Pelo menos as coisas mais necessárias consegui arrumar.
- Posso arrumar o que falta pra você?
- Não. Nem pensar.
- Por favor? Quero poder ajudar... Eu não tenho feito nada de útil faz tempos. A gente vai conversando e vou arrumando as coisas para você. Você já fez muito por mim, isso é o mínimo que posso fazer por você. - Tagarelei.


Acabou cedendo. E por incrível que pareça, eu realmente gostei do meu serviço. A casa parecia muito melhor quando terminei; não que eu tenha feito muita coisa. Desejei fazer mais vezes aquilo e então um pensamento me passou pela cabeça: Eu podia. Eu realmente podia.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

52 - O grande dia

 Se eu disser que contei as horas para sair com o Clark eu estarei mentindo fervorosamente, porque na verdade eu contei cada interminável minuto, até que finalmente chegou o grande dia (na verdade era só esperar o dia seguinte). Coloquei uma roupa de acordo com o ambiente que iria visitar, é claro. Preferi encontrá-lo lá e quando avistei fiquei admirada, o lugar por fora em si já é encantador, ainda mais com as flores em seu ápice de esplendor (ah meu Deus, estou ficando romântica demais).




 Não demorou para que o encontrasse, ele já estava lá, minhas mãos começaram a suar novamente, eu tentei disfarçar discretamente, porém ele pareceu preocupado
- Você está bem? Quer voltar para casa? - Ele disse enquanto pegou com gentileza a minha mão, senti uma leve pressão no meu pulso e logo em seguida seu dedo roçou para cima e para baixo, agora sim minha pulsação acelerou  de um modo assustador. Eu até concordaria em voltar se ele quisesse me levar para a sua casa, e não à minha.




 - Eu estou ótima Clark, e não vim aqui para uma avaliação médica, sei perfeitamente o que estava fazendo, puxei minha mão devagar, mas segurei as pontas dos seus dedos um pouco antes de largar sua mão. Esse breve contato fez com que eu sentisse algo estranho em meu peito, um sentimento que eu nunca tive antes e confesso que fiquei assustada. Acredite, aquilo nunca havia acontecido antes.




 Começamos olhamos quadros e esculturas, algumas estranhas, o que nos fez rir um pouco. Estar com o Clark depois de um tempo pareceu algo tão natural que esqueci o meu nervosismo. Sentamos depois e começamos a conversar bem descontraído, ele estava transmitindo uma sensação tão agradável. Assim que tem que ser, somos amigos antes de qualquer outro tipo de sentimento que eu possa ter alimentado por ele, adoro ficar em sua companhia seja como for.




No final do passeio já havíamos visto tudo o que tinha para ver, mas continuamos ali e ele começou a mostrar algumas fotos de seus pais e do passeio, sem perceber estávamos bem perto, perto o suficiente para perder o foco novamente, digamos mais um pouquinho e daria para apoiar minha cabeça em seu ombro, mas vi algo interessante. Ele logo mudou, mas eu fiz ele voltar.
- Nananananão, pode voltar. São vocês? Olha que gracinha. Ele ficou um pouco sem graça, mas respondeu.
- Minha mãe me mostrou umas fotos de quando éramos crianças, gostei dessa e tirei uma foto da foto. - Ele lindo desde sempre e a Juh, bem... engraçadinha com seus óculos com armação da vovó. 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

51 - Convite inesperado

 Quando ele foi em direção à sua mesa fiquei admirando suas costas, ombros largos, desci os olhos pelo seu corpo... Hum.... Uma vontade enorme de passar minhas mãos pelo seu corpo, tive que cruzar os dedos uns aos outros, não sei se era para impedir para que eu realmente o fizesse ou uma forma de tentar impedir meus pensamentos. Estava tendo meus delírios quando ele virou em minha direção, de repente meu rosto ardeu, denunciando completamente meus pensamentos.




 Ah que droga, eu nunca fui assim e não vou começar agora, achei minha voz, antes perdida e perguntei. -"Algum problema?" Não sabia se usar Clark ou Dr., então só fiz uma pergunta curta. Será que houve algum problema que eu não vi porque estava enfiada no consultório?
- Nenhum problema Diva, de forma alguma. Está tendo uma exposição no museu da cidade, gostaria de ir comigo? - O QUÊ?! - Ele está me chamando para sair ?




 Fiquei em estado de choque, eu acho, mas meu sorriso bobo parecia querer dividir meu rosto ao meio e minhas mãos não paravam de suar.
- Eu adoraria -Foi a única coisa que eu consegui falar. Eu não tenho certeza que iria  ver algo além dele, por mais que eu tenha bom gosto para esse tipo de arte eu tenho certeza que para mim não existe nada mais lindo que ele de qualquer forma.




 Senti de repente, assim do nada a minha visão embaçar, um zumbido nos ouvidos, de acordo com o meu nervosismo e os outros sintomas e todo álcool da noite anterior diagnostiquei-me com hipertensão, precisava tomar um remédio, nunca havia acontecido antes. Quando tentei dar um passo senti que iria cair.
- Diva você está bem? - Eu quase consegui responder, quase.



Fiz o sentido inverso ao chão, que é onde pensei que iria, Clark me pegou no colo e me agarrei em volta do seu pescoço, queria ter forças para passar pelo menos as mãos em seu cabelo, mas não consegui - pelo menos minha mente estava funcionando bem).
- Ary, pra ala particular, agora! Senti o peito do Clark vibrar como se fosse um trovão com suas palavras. Devo ter apagado logo após isso, pois quando abri os olhos estava em uma cama, quando ameacei levantar ouvi sua voz firme. - Nem pense nisso, pelo menos por enquanto. 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

50 - Como esquecer?

Tomei um banho, passei meu perfume favorito, só um pouquinho aqui e outro ali - afinal se for trombar com o Clark por lá que pelo menos esteja cheirosa - e estava começando a me arrumar para o trabalho, não tive coragem para correr ou coisa alguma, só tive coragem mesmo de levantar da cama e olha lá. Todo o meu "eu nem ligo" desapareceu quando fiquei sabendo que o Clark estava de volta. Meu coração disparou no mesmo instante e tudo o que havia ensaiado de não importava foi pelos ares. Pensar em encontrá-lo a qualquer momento no hospital fez minhas pernas fraquejarem. Pensar é uma coisa e fazer acontecer é outra totalmente diferente.



"Talvez ele nem apareça" - Pensei ao me arrumar, mais do que o necessário devo admitir. Cheguei ao trabalho e lá estava ele, logo na entrada olhando para a porta, para mim. Seus olhos fixaram aos meus, senti meu rosto queimando, ficou me observando até eu me aproximar mais, dando um leve sorriso. 
- Bom dia Diva - seu sorriso ampliou um pouco mais .
- Bom dia Clark - Minha voz mal saiu, deixei meus cabelos cobrir parte do meu rosto para tentar esconder o meu rubor, estava com uma séria desconfiança que eu estava prestes a desmaiar bem ali no meio do hospital.


 Passei direto para o banheiro, teria que refazer minha maquiagem, mas eu precisava lavar meu rosto e ficar sentada por lá durante um tempo, pelo menos sei que ali não serei incomodada. - Eu que estava decidida a esquecer estou nesse estado patético de adolescente apaixonada, "mas que merda, que droga, que porcaria"  ficava repetindo mentalmente como se isso fosse resolver alguma coisa. - fico me perguntando aonde vai toda minha coragem quando ele está por perto.



Finalmente estava um pouco melhor, fui pegar os prontuários destinados a mim, agora iria atender, sei que ali não seria incomodada por ninguém - Quer saber? se ele não quer nada comigo ou se eu sinto algo por ele não vai me fazer ficar trancada aqui o dia todo, não mesmo! Passei as mãos pelos cabelos e pela roupa e fui até a cantina, precisava de algo pra comer, não encontrei com ninguém pelo caminho, no fundo fiquei decepcionada, gostaria de olhar para ele mesmo de longe, porém ao me virar dei de cara com ele saindo da sala de exames.



- Diva, poderia falar com você um instante? - fiquei olhando para ele bem ali diante de mim, com aquele olhar e aquele sorriso... E tão perto, conseguia sentir seu perfume - "concentração Diva, respire, você tem que superar isso, vão se encontrar todos os dias no trabalho, coragem mulher"
- Claro. - Segui para a sua sala, e assim que a porta fechou estava pensando no seu "não foi nada, esquece", senti uma pontada de tristeza nisso. Esquece Diva, realmente você precisa esquecer. - Era só mais um assunto de trabalho dos muitos que sempre irão acontecer no hospital, nada mais do que isso.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

49 - Tentando esquecer

Meu humor despencou quando fiquei sabendo pela Juh que o Clark estava super bem, passeando pela cidade, o fato de que ele estava fazendo sei lá o que com sei lá quem é o que estava me matando, não queria pensar, não queria ficar me torturando com esses pensamentos, Eu ia ficar em casa, mas desisti,  escolhi um local qualquer, estava tentando me divertir, dançando muito e bebendo mais ainda. 
- Posso pagar outra bebida para você? - no início pensei em ignorar, mas pensando bem, por que não? - resolvi arriscar.




Um lindo par de olhos azuis me encarava com interesse, toda aquela intensidade obteve também a minha atenção.
- Claro, adoraria. - Dei um sorriso. - fomos ao bar e começamos a conversar, a conversa era agradável fluía com naturalidade. Fiquei sabendo que Gale além de bonito ele é simpático, inteligente, trabalha na área de investimento, mora sozinho, é solteiro. Fiquei sabendo também que eu precisava parar de beber com tanta frequência, minha visão estava ficando um pouco fora de foco.


Fomos dançar, deixamos nos levar pelo ritmo da música durante um bom tempo até que começamos a nos aproximar cada vez mais, fomos nos distanciando da multidão até ficarmos mais isolados. Gentil e educado ele é um cara muito legal, porém ainda não era o que eu queria - ou quem eu queria - no fundo da minha mente parecia ter uma voz que insistia "mas não é ele" não parava de sussurrar.



Ficamos um tempo ali, até que estava exausta de tentar calar aquela voz na minha cabeça, era melhor ir pra casa, sozinha, não queria ninguém comigo, nem seria uma boa companhia de qualquer forma, dei a desculpa que iria trabalhar no dia seguinte logo cedo, o que não é verdade, só começo depois das 13:00h.
Me liga? - ele perguntou, trocamos nossos números - Vou esperar, se não ligar eu ligo. 
- Assim que meu trabalho permitir - talvez eu realmente ligasse, talvez... 



Fui pra casa, estava um caco, muito cansada e ainda pretendo acordar cedo para ir à academia, ou correr, qualquer coisa que me ajudasse a tirar essa tensão do meu corpo. Abri a porta e assim que subi para o andar superior vi que a luz do quarto da Juh estava acesa, meu coração disparou em pensar que amanhã poderia encontrar o Clark no hospital, corri tomar um banho e quando voltei para o meu quarto e dei uma olhada no telefone, uma pequena esperança de uma mensagem, mas infelizmente só havia uma mensagem da minha mãe - ignorada e apagada com sucesso, logo em seguida o celular vibrou, olhei na tela e havia uma mensagem "-Durma bem, beijos G." -  joguei o celular de lado coloquei uma camiseta qualquer e fui dormir.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

48- Willow Creek, nos aguarde!

- Desculpa novamente. Eu sou desastrado, - Falou com desenvoltura - mas não costumo envolver ninguém em acidentes com isso. - Sorriu.
Sorri de volta. - Está tudo bem.
- Veio acompanhada?
- Com o meu irmão e você?
Meneou a cabeça. - Um amigo me convidou.


Depois de um tempo em silêncio percebi que ele tinha a mente distante. Segui seus olhos. Ele olhava as estrelas?
- Está uma noite bonita. - Comentou.
Olhei as estrelas e concordei em silêncio.
- Desculpa ter estragado a sua.
- Você não estragou. - Disse sinceramente. - De que outra forma eu teria bebido essa xícara de chocolate quente?


Ele olhou para mim e sorriu satisfeito.
- Poucas pessoas conseguem olhar a vida dessa forma. Somos poucos... - Piscou divertido para mim. - Que sabemos encontrar as coisas valiosas em todos os lugares.
Sorri e fiquei pensando sobre aquilo.


Passei o resto da noite conversando com o cara que tinha me derrubado na piscina. Já não estava tão encharcada quando voltei para casa com o Clark, que não deixou de notar e perguntar.
- Se jogou na piscina com roupa e tudo?
Revirei os olhos e fingi me aborrecer com a sua pergunta.
- É, Clark. Sabe como sou louca por piscinas. Nunca resisto.
Ele ficou confuso, mas resolveu não perguntar mais.


Obviamente perdi o telefone do cara da festa.
Passei mais dois dias apenas em casa com meus pais. Clark saiu mais uma vez e não fui convidada.
Nossos pais nos fizeram prometer que não demoraríamos a fazer novamente uma visita e depois de mais umas mil promessas nos despedimos de Oasis Springs.

47- Encharcada

Sentei na beirada da piscina, recuperando o fôlego e a postura. A vergonha era tamanha que superou minha raiva e olha que eu realmente estava irritada.
-Desculpa. - Uma mão foi estendida à minha frente acompanhada do tímido pedido.
-Tudo bem. - Sorri e apoiei-me em sua mão para levantar.


"Tudo bem"? Por que diabos eu tinha dito isso sorrindo? O jovem... Talvez tivesse 18 anos? Que de longe se destacava pela forma que estava vestido, acompanhou-me até um sofá.
- Senta aqui. Volto num instante. - E saiu.
Olhei ao redor procurando o cara com quem eu conversava antes.


Lá estava ele... pegando uma bebida? Deu-me um sorriso sem graça e veio em minha direção. Passou a mão delicadamente no meu rosto afastando um pouco do cabelo e ofereceu-me a bebida. Talvez eu estivesse mesmo com cara de quem precisasse se embebedar.
- Como eu tinha te dito, preciso mesmo ir embora. Não seria melhor que também fosse? Posso te dar uma carona.


Suspirei. Na verdade, ninguém parecia ter notado que há pouco eu estava voando para dentro da piscina. Nem mesmo meu irmão. E nem em um milhão de anos seria uma boa ideia aceitar voltar para a casa dos meus pais com um cara que, além de tudo, eu tinha acabado de conhecer.
- Obrigada, mas vou ficar por aqui ainda.
- Tudo bem. - Deu-me um beijo na testa e um pedaço de papel com o número de seu telefone. - Se cuida.


Fiquei olhando para aquele pedaço de papel e tentando imaginar como conseguiria preservá-lo seco, tendo em vista o meu estado encharcado.
- Espero não ter demorado muito. - O rapaz estava de volta.
Trouxe uma toalha e uma xícara de chocolate quente.
Coloquei o drinque intocado de lado e nunca senti tanta gratidão por um chocolate quente na vida.


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

46 - A fuga de Fogus

Nunca a equipe se divertiu tanto, o Ary se acabava de tanto rir enquanto contava como Fogus de repente sumiu do hospital.
- Eu adoro colocar em pratica minhas aulas de teatro, ele quase enfartou de verdade quanto apareci no quarto todo me rebolando e piscando os cílios para ele, dizendo que a Dra. Marques havia dito que ele era um paciente muito especial e que era para tratá-lo com carinho, e aproveitando que iria fazer exames era sensato também a fazer um exame de proctologia. 



- Continuei ali piscando pra ele e ele ficou chocado em me ver ainda parado ali, devia estar achando que era algum tipo de engano e que logo me desculpasse e saísse dali.  Ele devia estar esperando um tratamento Vip, porque digamos que ele não estava vestindo mais a roupa do hospital, então tratou logo de colocar a camiseta, depois começou a esbravejar e mandou que saísse, em seguida, eu nem havia me virado e ele já estava terminando de colocar os sapatos. Tive que me esforçar tanto para não rir. Passou voando por mim logo em seguida, soltando uns palavrões horríveis.



- Espero que ele não processe o hospital alegando assédio. -Eu ainda secava minhas lágrimas de tanto rir.
- Se ele fizer isso eu falo que ele apenas está chateado e não aceita que rompi nosso relacionamento. - Logo estavam todos rindo novamente. Acho que vou ficar devendo essa para o Ary pra sempre. Isso sim é amigo para todas as horas.



Na hora de ir para casa Ary e Megumi confirmaram estar de acordo com o restante da equipe para uma saída entre amigos - amei a ideia, afinal quanto mais, melhor. Infelizmente Cecília não poderia nos acompanhar, precisou viajar as pressas por causa de um problema de família, mas cinco pessoas (ou seis dependendo da resposta do Clark) é uma boa quantia. 



Depois de finalmente estar em casa, decidi que é melhor deixar o Clark de lado, nunca vai funcionar isso, ele não mostrou o mínimo interesse, vou continuar curtindo a minha vida, vai ser bem melhor.  Tomei um bom banho, li um bom livro (na verdade eu tentei ler, sempre eu me pegava com os pensamentos "voando") , mandei um e-mail para o meu pai e logo em seguida estava em estado praticamente de coma na minha confortável cama, essa é uma vantagem de ter um dia bem cansativo, você deita e apaga quase imediatamente.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

45 - Cara de pau

Incrível a capacidade de cara de pau de certas pessoas, foi isso que eu descobri quando iniciou o meu dia de trabalho.
- Seu próximo paciente lhe aguarda na sala quatro - tudo normal se o "paciente" não fosse o Fogus, fiquei incrédula ao vê-lo ali com uma roupa como o restante dos pacientes internados. - Sr. Domênico Fogus. Olhei incrédula para ele e depois para sua ficha e conferi o que ele tinha de errado, já que pelo menos sua aparência estava ótima, ele permanecia calado, somente me observando.



- Então Sr. Fogus, o que está sentindo? - Perguntei em um tom meio profissional e meio irônico.
- Dor no peito devido à um coração partido, olhos doloridos de tanto chorar e...
- Pele ressecada por falta de óleo de peroba -  acrescentei. - Preciso fazer uns exames para preencher o sua ficha médica.  - Tentei não prolongar o assunto, quanto menos conversa, melhor.



- Estou a disposição, sou todo seu, faça o que quiser - disse em um sorriso enorme, tentando me provocar, mas não mexeu nem um pouco comigo. Tive uma ideia repentina. Fiz cara de pouco caso e continuei meu trabalho, se ele queria ser atendido, que assim fosse.
- Já disse que não estou interessada, só vou aferir sua temperatura , tenho que ir ali e logo terminamos com os exames, volto logo.
- Estarei bem aqui, prometo não mexer uma palha.



Fui até a sala do Dr. André, dei uma batidinha e entrei em seguida.
- Com licença doutor, está muito ocupado?
- Pode falar, precisando de alguma coisa?
- Na verdade sim, estou com um paciente na sala quatro precisando de uns exames, não é nada grave, na verdade está ótimo, só inventando sintomas e ocupando lugar de outros pacientes que realmente precisam de atendimento.



Ele sorriu como se entendesse o que estava acontecendo.
- Entendo, acontece de vez em quando. - Deu uma olhada rápida no prontuário. - Consulta particular para quem não está sentindo nada, Dra.?
- Ele só precisa de vergonha na cara, e, de um susto.
- Considere feito, vou procurar o enfermeiro Ary, ele é o melhor para cuidar do caso - Ele saiu da sala sorrindo  e eu fiquei sorrindo mais ainda 


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

44 - "Não foi nada"?

Acordei e resolvi aproveitar a piscina, mas primeiro tomei  coragem para ligar meu celular novamente, não posso fugir dos meus atos e de qualquer forma, não foi uma sentença de morte, foi apenas um beijo. - Havia três mensagens, fui abrindo por ordem da importância, o mais importante deixaria por último. A primeira foi do Fogus pedindo uma chance de explicar, resposta rápida -não, obrigada; um do hospital que perguntando se teria como eu voltar antes do tempo já que estavam também sem o Clark precisavam da minha ajuda, resposta rápida também, ok estarei ai amanhã;  agora a última do Clark. "-Não foi nada, esquece"  - Não foi nada? Quer dizer que ele não se importou, não é? Não significou nada pra ele, ele realmente não sente nada por mim. 



Nunca fui de ficar me lamentando por ninguém e por mais que o Clark definitivamente mexeu comigo não vou ficar pra baixo, esqueci a piscina e decidi ocupar meu tempo com outra coisa, o dia está lindo então decidi correr, gastar minhas energias com algo saudável, não tenho o privilégio de sair ao ar livre durante muitos dias. Não tinha jeito, por mais que tentasse toda vez que eu me lembrava do "não foi nada, esquece" meu humor ia ao chão. Quando estava voltando acabei encontrando a Jade e ela me convidou para uma festa que iria acontecer à noite, prometeu muito agito em um lugar diferente, eu aceitei, é claro



De noite estava pra lá de pronta, limpinha, cheirosa e cheia de disposição. Encontrei o pessoal e caímos na dança, no inicio achei que iria esquecer de tudo e de todos, mas logo os problemas voltaram a me assombrar, porém nem a batida forte da música os expulsava. Parei tudo e fui tomar uma bebida, sem álcool dessa vez, quero manter minha sanidade mental intacta. Acabei desistindo e fui pra casa. Tudo bem, afinal amanhã volto ao trabalho, preciso das minhas preciosas horas de sono.



Fui trabalhar no dia seguinte, o hospital parecia vazio sem ele, mantive o foco no trabalho, mas de vez em quanto minha mente vagava pra longe - O que será que ele está fazendo agora, não falaram quanto tempo iriam demorar em Oasis, vou ter que induzir a Valentine a descobrir isso pra mim, se eu a encontrar em casa, depois que sua tia mudou-se para essa cidade ela quase não para mais em casa.



Pouco antes do final do expediente encontrei com a equipe, comentei que seria legal se sairmos para beber algo qualquer dia desses, talvez no próximo final de semana, assim o Clark já deveria estar de volta - Claro que esse pensamento eu guardei só pra mim. Agora eu fui direto para minha aula de Yoga, acabei relaxando esses dias, tenho que tentar manter meu corpo e mente "ajustados" mais do que nunca.